segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Orgulho não é pecado, pelo menos não grave: orgulho é coisa infantil em que se cai como se cai em gulodice. Só que orgulho tem a enorme desvantagem de ser um erro grave, com todo o atraso que o erro dá à vida, faz perder muito tempo."
(Clarice Lispector)

domingo, 29 de agosto de 2010

Ao desligar o telefone Rafaela sai correndo do seu quarto, passa pela sala onde sua mãe está assitindo a novela, bate a porta com força e senta no quintal, naquele mesmo lugarzinho escondido a qual passava horas olhando a lua e as estrelas com Andréia. Sua mãe vem atrás e pergunta o que aconteceu, Rafaela já não tem mais nenhuma desculpa para justificar as lágrimas que caíam de seus olhos.
-Briguei com a Andréia! Me deixa quieta aqui, eu quero ficar sozinha!
-Brigou com aquela sua amiga estranha? Eu falei que não era para você continuar falando com ela, aquela menina estranha...

Sua mãe ficou um tempão ali parada ao seu lado a culpando por algo que ela nem tinha certeza do que era, mas ela já não tinha noção do tempo e não prestava mais atenção no que a mãe dizia. Levantou a cabeça, olhou para o céu e reparou que estava escuro, mais escuro que o normal, não enxergava a Lua e as estrelas não pareciam ter muita vontade de brilhar naquela noite fria. O vento estava forte e gelado, sentindo ele bater na sua cara se deu conta de que não teria mais as mãos quentes e firmes de Andréia para segurar as suas, não sentiria mais os lábios grossos e carinhosos de sua amada junto aos seus, sentiu então um forte aperto no coração, levantou e reparou que sua mãe não estava mais ali.
Foi até o seu quarto após algumas horas sozinha no frio, ligou o rádio, na estação que ela sempre ouvia, e logo começou a tocar aquela música que ela tinha declarado à Andréia uma semana antes e saiu tropeçando no lençol jogado ao chão para desligar o rádio. Sem mais nada fazendo sentido, pegou o celular e discou o número de sua amada, discava e apagava, discava e apagava, fez isso umas sete vezes e sem mais forças para nada pegou no sono com o celular na mão.
Era umas 3 e meia da manhã quando sentiu seu celular vibrar, acordou rápido com uma pontinha de esperança dando a ela uma vontade enorme de gritar, antes que o celular começasse a tocar aquele toque tosco que sempre fazia Andréia rir ela atendeu, não deu tempo nem de olhar quem era, sem noção de horário, falava alto, do outro lado da linha uma voz trêmula implorava para que ela diminuisse o tom da sua voz.
-Me desculpa Rafa, eu fui uma idiota, eu sei que você não teve culpa, eu sei que não teve sentimento, eu te amo, eu não posso ficar nem mais um minuto sem você! Me perdoa?
Abalada com aquelas palavras que sonhou ter ouvido, Rafaela não tinha palavras, não conseguia emitir uma palavra que não parecesse um grunhido e antes que pudesse falar algo Andréia prosseguiu:
-Olha, eu sei que fui estúpida contigo, que eu fui irracional, mas... você sabe o quanto você significa pra mim! Você sabe que a idéia de ter que imaginar você com outro me enoja, me deixa tonta e perdida. Eu sei que foi a sua prima quem te obrigou, eu conheço a tua mãe, sei que ela não aceitaria e sei o quanto ela é importante para você. Por favor me perdoa!
Rafa já não sentia mais as suas pernas, chegou perto da janela e sentiu seu coração bater tão forte quanto na primeira vez em que se beijaram
-Amor, viu como praticamente não tem estrelas no céu hoje?
-Elas estão tão abaladas quanto eu, me perdoa?

Rafa se sentia cada vez mais machucada a cada palavra que saía da voz doce e firme de Andréia que agora soava meio gaga, meio triste e tentando ser o mais firme possível disse que estava indo para a casa de Andréia naquele momento.
Andréia não teve tempo de responder, Rafa, antes de se arrepender, chamou um táxi e desligou o celular.
O táxi chegou em menos de 10 minutos na frente da casa de Rafa, o que para ela, parecia uma eternidade, já que cada segundo insistia em se arrastar.
Levou mais 15 minutos para chegar na casa de Andréia, Rafa esqueceu de pegar o troco e saiu corredo do táxi, batia desesperadamente na porta e Andréia demorou um pouco para abrir, quando ela ouviu o barulho das chaves girando sentiu seu coração pulsar mais uma vez e logo que Andréia apareceu na porta Rafa a agarrou como nunca tinha feito a ninguém antes, com tal paixão que nem se deu conta de que a porta ainda estava aberta e o táxi parado ali na frente, Andréia, com os olhos inchados, fechou a porta, abraçou Rafa, olhou em seus olhos doces que sempre foram o motivo de seu sorriso e disse:
-Seu cabelo nunca esteve tão lindo!
Rafa passou a mão pelos seus longos cabelos pretos e lembrou que não tinha penteado, nem se arrumado. As duas caíram na gargalhada e Rafa lembrou de todos os momentos em que Andréia a tinha feito sorrir, elas então se beijaram numa intensidade a qual nunca imaginou.
Andréia deu um leve empurrãozinho em Rafa, que a olhou com um olhar meio perdido e mais uma vez com a voz firme, que sempre confortava Rafa nos seus piores momentos disse
-Eu te amo mais que tudo, fica comigo essa noite...

sábado, 28 de agosto de 2010

Deito minha cabeça sobre seu colo.
Suas mãos passeiam carinhosamente pelo meu cabelo ainda molhado.
Ela olha para fora, para longe.
Sua respiração oscila, ela parece não estar ali.
Olho para ela, peço para que devolva o olhar.
Ela vira a cabeça devagar.
Encontro seus olhos querendo ajudar seu coração.
Uma lágrima tímida surge no canto do olho esquerdo.
Naquela lágrima, seu olho tentou expulsar a dor.
Em vão.
Eu sorri, talvez o sorriso mais forçado da minha vida.
Ela com tamanha obrigação me devolveu o sorriso também.
Eu o peguei e senti que também fora forçado.
Não a culpo, não me culpo.
Sorrisos podem ser belas saídas, mas tem horas que eles não se encaixam na situação.
Prevaleceu o silêncio.
Eu gosto disso, não entendo porque as pessoas tem tanta sede de palavras.
O silêncio às vezes diz muito mais, de uma forma muito mais clara.
Um olhar, foi o que dela levei de melhor.
Ela moveu sua mão até meu rosto, delineava as curvas do mesmo.
Eu fechei meus olhos, no meu peito agora batia um coração que parecia não ser meu.
Quando os abri, vi os dela fechados.
Por suas bochechas escorriam lágrimas brilhantes, lágrimas que pareciam de aço.
Eu não tinha visto-a chorar até então.
Pulei de seu colo.
Ela me olhou como criança em colo estranho.
Eu não vi minha cara, mas tenho certeza que dali só se via preocupação.
Abracei-a. Forte.
Ela demorou a envolver seus braços ao meu corpo.
Aconcheguei-a em meu peito.
Eu te amo.
Foi a coisa mais linda que eu já ouvi.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Nenhum texto não presta quando é feito com intenção de demonstrar algum sentimento, alguma emoção.
Nenhum texto deveria ser descartado.


A vida é engraçada, talvez seja ainda mais que a sociedade.
Porque a vida levada dentro de uma sociedade, principalmente de uma sociedade falha, é a coisa mais irônica que existe.
Porque as pessoas vivem buscando a tal da felicidade eterna e acabam ignorando os pequenos momentos de felicidade instantânea, que no fim, seriam o bastante para manter uma pessoa viva e sorrindo, o que deveria de fato importar e bastar.
Grande parte das pessoas consideram Hitler um monstro, mas acabam intolerantes igual ele, aquele que eles consideraram monstro.
Afinal, quem foi o idiota que disse que a sociedade tem que ser assim?
Que sociedade é essa que exclui pessoas e não os concede os mesmos direitos de outro ser humano qualquer somente por uma diferença?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Eu segurei sua mão, estava mais gelada que o normal, pude até sentir ela tremer.

-Você vai ficar bem, amor, eu sei.- tentei acalmá-la, mas parecia que nada do que eu dissesse poderia ajudá-la.

Desde que ela tinha me contado da doença eu não dormia mais, não comia direito, minha vida parecia não ter outro motivo que não fosse estar do lado dela até o fim.

Na última semana ela havia piorado, não saí mais do hospital, ela não olhava mais diretamente nos meus olhos e eu não entendia o porque. Essa dúvida me matava, teria eu feito algo errado? Algo que a magoasse? Não sei, não conseguia me lembrar de nada que a tivesse deixado assim. Mas o pior é que eu não sabia como perguntar. Todas as vezes que seus olhos passaram rapidamente pelos meus, vi neles um abismo, mas um abismo diferente daquele que vi quando meu coração ela roubou. Naquele abismo que eu cai, eu não tive medo, eu quis me entregar à ele. Nesse abismo que vi de relance, pude perceber o medo e confesso que me apavorei um pouco com isso.

Desde que nos conhecemos, ela era para quem eu corria quando algo estava errado, ela era quem me levantava. Agora eu amaldiçoava a vida por vê-la ali, sofrendo, sem poder fazer nada.

Ela pegou no sono, ainda de mãos dadas comigo. Eu a soltei, peguei meu cigarro e meu isqueiro e fui para fora, acendi, vi o fogo queimar o papel, a brasa aumentando, lembrei de uma de nossas primeiras viagens, quando acendi a lareira e abri uma garrafa de vinho, a imagem dela sorrindo me veio à cabeça, meus olhos se encheram de lágrimas, eu fiquei tonta, me escorei em uma parede, escorreguei por ela até o chão, tentava controlar minhas lágrimas, não poderia demonstrar fraqueza, nem dor, eu tinha de ser forte. A brasa queimou meu dedo, como um reflexo larguei a bituca. Levantei e voltei para o quarto.

quando entrei ela estava acordada, sentei ao seu lado, respirei fundo, tomei coragem e perguntei porque ela não deixava eu me perder em seu olhar. Ela virou para mim.

-Eu não quero que você leve de mim a lembrança de um olhar vago, você foi a pessoa que mais deu sentido à minha vida, a pessoa que eu mais amei, eu quero que você leve de mim, a lembrança mais bonita que você tiver guardada em sua memória, e eu sei que isso nós temos de sobra, porque o que me faz sorrir agora são as coisas que nós vivemos e as coisas que você me disse.

Dessa vez, quem não conseguiu fixar o olhar fui eu, abaixei a cabeça e as lágrimas que eu tanto segurei, caíram.

-Você não precisa esconder tudo o que você está sentido, vida. Eu sei que você talvez esteja sofrendo tanto quanto eu, mas eu te amo, e por mais que eu seja o motivo dessa sua dor, eu também quero ser, pelo menos mais uma vez, aquela que alivia a sua dor.

Eu estava aos prantos, não poderia viver sem ela, não, aquilo não poderia nem ser uma possibilidade.

-Eu sei que vai ser difícil pra ti, mas lembra do nosso início de namoro, também foi difícil, mas nós superamos, juntas, e mesmo que eu vá, eu nunca deixarei de estar ao seu lado, te amando, como eu também sei que você nunca vai deixar de me amar.

-Mas você é a razão da minha vida. Eu não posso continuar vivendo sem uma razão.

-Claro que pode, tanto pode, como eu quero que você continue aqui, firme e forte. Você vai encontrar uma outra pessoa, eu sei, você é linda, querida, amável, mas eu preciso te deixar livre para ser feliz mais uma vez, eu preciso te deixar livre para que você possa proporcionar tudo o que você me deu para outro alguém. Você merece mais que ninguém ser muito feliz, com ou sem mim.

Eu não consegui falar mais nada, me ajeitei ao seu lado, abraçando-a com cuidado, talvez ela tivesse razão mesmo, mas demorou um bom tempo para eu começar a aceitar essa idéia.

Naquela noite, eu perdi o meu amor.

Você já se sentiu sozinho no mundo ao menos uma vez?
Sentiu seu coração queimar, como se a ausência de algo que tu nem sabe direito o que é fizesse com que ele desejasse profundamente parar de bater. Tentou escapar, mas as portas estavam lacradas e não havia saída de emergência. Buscou refúgio em vícios que não serviriam na verdade para nada além da fantasia e da facilidade de fingir a serenidade.
Como se tudo isso fosse fazer essa dor sumir.
Talvez essa seja a mais difícil sensação. Porque mesmo que existam pessoas que se importam contigo, existem coisas que são mais importantes para elas do que um abraço em ti.
Você anseia por um carinho, por um sorriso, mas tudo que acontece naquele momento faz com que você não tenha força suficiente para conseguir sorrir, para conseguir demonstrar uma felicidade que você realmente queria estar sentindo.
Você finge estar tudo bem, mas mesmo que você finja para que as pessoas não percebam, inconscientemente o que você mais precisa naquele momento, é que alguém perceba que aquilo está errado e te ajude.
Mas ninguém percebe.
Quando você está sozinho e parece que não tem como tu sentir mais dor, qualquer coisa triste que tu veja parece te afetar, mesmo que não tenha nada a ver contigo.
As coisas nunca são tão ruins que não possam piorar, mas mesmo que eu defenda essa ideia, eu sei que isso não vai durar para sempre. Porque eu sei que mesmo que eu esteja me sentindo um lixo, alguém se importa comigo, nem que essa pessoa seja minha mãe e ela não faça a menor ideia do porque de eu estar e sentindo assim.