quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eu acredito nas palavras ditas à mim, quando são direcionadas diretamente aos meus ouvidos, quando eu sinto um olhar verdadeiro, quando eu vejo sentimento.
Eu acredito que ainda há saída, que eu ainda vou poder me entregar inteira e verdadeiramente à alguém que me diga as coisas que eu preciso ouvir.
E eu ainda sei que mesmo que eu diga que essa pessoa não está ao meu lado, ou que essa pessoa não existe ou ainda que ela não se importa, eu sei que eu posso olhar pra trás que na minha história eu tenho pilastras o suficiente para me manter forte.
Essa pessoa existe, essa pessoa pode ser várias pessoas, essa pessoa pode ser um objeto, independente do que seja, de quem seja.
E eu vou acreditar que enquanto eu respirar por alguém, alguém respirará por mim também.
Eu vou acreditar nas cartas à mão, nos versos simples, nas rosas, nos corações, nas declarações, nas acelerações cardíacas, nos suspiros, eu vou acreditar no romantismo.
Eu vou acreditar no amor.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

E eu começo a duvidar de todas as palavras que eu disse, de tudo que eu afirmei sobre o amor. Não era aquilo que te faz bem sempre? Não era pra ser algo que alimentaria minha alma e me faria completa, sem nada de ruim?
Pois o que eu sinto agora é um inexplicável vazio dentro de mim, uma dor que talvez eu nunca tenha sentido igual. Afinal se eu disse que eu a amaria para sempre, e ela me disse o mesmo e do mesmo jeito quem faz ela feliz não sou eu, e quem me faz feliz não é ela, o que me resta a respeito? A sutil diferença é que mais uma vez, a pessoa pela qual eu sorrio à toa agora, é uma pessoa que não me ama, que mesmo que talvez me enxergue como mulher, tenha seu coração entregue à outra. Mas e o meu?
Meu coração cansado de bater já não sabe a quem se entregar. Pois para todas as pessoas que ele amoleceu e se deu, ele voltou para mim com pelo menos um esfolado a mais. Só sei que desse último tombo que ele levou, foi a artéria principal que voltou obstruída. E talvez de felicidade e paz eu já não entenda muito, mas de dor, nesse assunto sou expert.
Quando é que essa agonia vai passar?
Ela sentia as gotas pequenas de chuva caírem finas sobre seu moletom preto. Podia sentir o cheiro dela em sua roupa. Atravessou a rua sem olhar para os lados, no lado esquerdo não vinha carro, ao ouvir uma buzina parou. Estava em cima da faixa amarela, no meio da pista. Ergueu a cabeça, naquele momento vinham carros dos dois lados da rua. Ela continuava parada. Não sentira medo, os carros passavam por ela fazendo vento. Tão perto que ela poderia até dizer se o carro usava gasolina ou álcool, se seu pensamento não estivesse tão longe.
Estava frio aquele dia, ela sentia o vento bater em sua cara, cortante, mas aquilo não a afetava naquele momento.
Ela erguera a cabeça, liberando um longo suspiro, tentando aliviar a angústia. Tentativa vã.
Ao atravessar a rua, vira algo inusitado. Mais uma vez a borboleta branca estava pousada, batendo levemente suas asas sobre uma flor que ela não saberia dizer qual é, mas que eu tenho quase certeza de que era um lírio.
Continuou andando, dessa vez em direção da borboleta. A mesma, ainda imóvel.
Chegou perto, parou. Sua mente se livrou por um instante de todos aqueles pensamentos que a assombraram pela manhã inteira.
Ela tentou encostar na borboleta, que logo voou alto, impossibilitando que fosse tocada.
Ela ficou observando, até que não sentiu mais nenhum pingo de chuva. Olhou para o chão e logo para o céu, as nuvens deram espaço para que o sol aparecesse. Brilhante.
Atordoada, tentou achar a borboleta, mas ela tinha sumido.
Com o sol ainda brilhante, seu celular tocou.
Era a única pessoa com a qual ela desejava infinitamente falar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tinha sido mais um daqueles dias em que tudo que eu mais quero é deitar na minha cama, ligar a televisão e dormir com ela ligada, sem querer.
Sai correndo do trabalho, peguei meu carro, com pressa. Na avenida que atravessava a rua paralela a que eu morava, tinha um pequeno restaurante. Nunca parava ali, pelo menos nunca sozinha.
Mas naquele dia eu olhei no relógio, e ele marcava quinze minutos a menos do que eu costumava chegar em casa. Resolvi parar.
Estacionamento fácil, não levei nem 3 minutos para manobrar. Entrei.
O ambiente tinha sido reformado e parecia que os donos tinham trocado o decorador. Agora estava uma coisa meio indiana, não sei explicar bem, dessas coisas eu não entendo nada.
Sentei em uma mesa ao lado da janela, o que me permitia estudar o movimento da rua e das pessoas que por ali passavam.
Um garçom novo, jovem, alto, robusto apareceu com o cardápio na mão, enquanto eu olhava as fotos dos pratos o rapaz falava sobre as sugestões do cheff e dele próprio.
Fiz meu pedido, ele se virou e foi para a cozinha.
Meu olhar o seguiu, logo que ele sumiu pela porta giratória branca, um reflexo irritou me olho, desviei o olhar rapidamente, mas tomada pela curiosidade voltei a olhar para a mesma direção.
Do outro lado do restaurante estava sentada uma moça com cara de menina. Uma moça que passeava suas mãos com unhas pintadas de vermelho pelos seus longos cabelos preto azulado. Era a pele mais branca que eu já tinha visto na minha vida, não consegui parar de olhar para ela. Os carros e as pessoas na rua, ficaram de lado.
A moça virou sua mão e mais uma vez o reflexo veio em minha direção, dessa vez, só cerrei o olho. Não conseguira desviar o olhar. Era seu relógio que fazia o reflexo, um relógio de pulso feito de metal. Parecia com o meu, o dela estava no pulso direito, o meu, no esquerdo.
Ela cortava um pedaço de carne em seu prato, tal delicadeza que parecia ser feito com dó.
Eu a observava.
Meu prato chegou. O dela acabou. Ela pediu a conta.
Minha comida esfriava no prato, enquanto eu imóvel, sentia meu coração acelerar.
Ela olhou em minha direção, ao encontrar seus olhos azuis, pela primeira vez consegui desviar o olhar.
Sentia o olhar dela agora em mim. Pouco antes de ela sair, olhei pra ela de novo. Ela sorriu e foi embora.
A minha noite tinha acabado.
E eles dizem que eu me estrago toda vez que eu tento buscar uma saída para aquilo que eu sinto dentro do meu peito.
Aquilo que eu não poderia definir com um nome, que de tal imensidão não caberia no contexto de uma só palavra, nem com suas entrelinhas.
Eu não sei se culpo o Português, por não ter uma palavra que se defina, ou se culpo a mim mesma, por não saber dividir e denominar.
Porque eu sei como surgiu, só não sei bem ao certo quando, nem aonde. Mas eu sei que foi com um olhar, com um abraço.
Eu também sei que eu só pude identificar depois que corações eu parti, sem sequer fazer cócegas ao meu. Ao meu coração, que mal sabia eu, estava a postos debaixo de seu carinho, da sua proteção.
Ainda sei também que a luta é vã. Porque ela não vai acabar com nada daqui.
Só não sei também como pode se misturar com todas aquelas outras coisas que estavam escondidas, em um canto, mas que vieram de uma só vez.
Não sei como eu deixei que aquilo tão lindo, tão puro, fosse tomado pela mancha negra que aquele outro impõe.
Vazio.
E ainda vêm me criticar por eu tentar colocar em ordem as coisas aqui dentro?
Por eu tentar preencher a coisa que mais doeu e continua doendo em toda minha vida?
Não vai ser assim que as coisas vão melhorar, eu sei disso, você sabe disso, todo mundo sabe disso.
Mas não é terrível dizer para uma criança que todos aqueles personagens que ela acredita que trazem presentes pra ela não passam de uma mera ilusão?
É muito mais bonito ver um sorriso falso, à uma lágrima verdadeira.
Mesmo que seja necessário encarar realidade para sobreviver, é necessário fingir que está tudo bem.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ela caminhava sozinha pela rua deserta.
Asfalto e mais asfalto.
Desejava que alguém lhe abraçasse agora.
Ninguém ali.
As nuvens escuras no céu se fechavam.
No fim da rua havia uma árvore.
Uma única árvore com suas folhas já em tons de marrom.
Seguiu adiante com seu fone no ouvido.
A música embalara seus passos.
Andava chutando pedrinhas, mas sem tirar os olhos da árvore.
Estava chegando perto, em seu ombro pousou uma borboleta branca.
Como quem incentiva alguém a continuar, a borboleta bateu suas asas no ombro dela e voou.
Pousara na árvore, ela a seguiu com os olhos, paralisada.
O branco das asas se contrastavam com o tronco.
Ela desejou poder voar.
A música continuava baixinha por seus ouvidos.
A borboleta levantou voo, como se tivesse cumprido seu papel foi embora.
A menina não se sentia mais sozinha naquele momento.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ela me puxou, estava sentada, eu de pé.
Caí em seu colo.
Tentava não deixar com que ela sentisse o peso de meu corpo.
Mas ela brigava comigo.
Dizia insistentemente que aguentava.
Conversávamos entre pequenas discussões sobre meu peso.
Um silêncio se estabeleceu por um instante.
Ela olhava para mim fixamente nos meus olhos.
Eu não conseguia tirar os olhos de sua boca.
Me aproximei.
Segurei seu queixo.
Sua boca abriu, parecia esperar pela minha.
Eu a beijei.
Um beijo tímido, acompanhado do embalo do ônibus se estendeu.
Lombada.
Nos separamos.
Não sei quem estava com mais vergonha.
O castanho de seus olhos refletia os meus.
Confesso que vi um brilho naquele instante.