quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ela chegou em casa após um longe e cansativo dia de trabalho, ansiava pelo seu canto, pelo seu mundo, por aquela paz que sentia apenas quando se sentia livre e segura, agradeceu por não ter mais ninguém em casa, largou sua bolsa em um canto da sala, enquanto se dirigia para a cozinha foi desabotoando a blusa que tanto lhe incomodava. Largou-a em uma cadeira, fazia calor naquele dia, mas sentia-se um tanto fria. Abriu a geladeira e pegou uma cerveja. Foi até seu quarto com certa euforia e ansiedade, vestiu sua regata velha e desbotada, sua preferida, sentou na cama, abriu a cerveja, tomou um longo gole e pegou seu violão.
Tocava as melodias mais tristes que tinha aprendido até então. Seus dedos passeavam leves por sobre as cordas que retribuíam o carinho com tal tonalidade que dera vontade de chorar. Fechou seus olhos e na sua cabeça veio a imagem daquele sorriso, o sorriso que a fizera mudar de cidade em busca de paz, e que em raros momentos tinha sentido ali, naquela busca incessante por aquilo que a fazia realmente feliz.
Entre notas e goles de cerveja ouviu a porta da frente se abrir, seu instantâneo momento de reflexão inconsciente sobre a verdadeira felicidade estava prestes a se acabar.
-Está em casa, amor? -perguntou a voz que não desejava ouvir naquela noite.
-Sim, cheguei mais cedo hoje.
-Resolveu fugir?
-Quem dera se pudesse.
Olhou para a aliança dourada que brilhava em seu dedo e logo desviou seu olhar para a frase tatuada em torno de seu antebraço “Amor addit alas”, já meio apagada, concentrou-se ali.
Ele batera de leve na porta do quarto, ela se virou para ele.
-Tudo bem contigo?
-Acho que preciso retocar essa tatuagem. -ele sentou na beirada da cama, olhou para a cerveja e para as olheiras que ela estava.
-Não, você não está bem.
Ele puxou sua corpo para junto ao dele, ela gostava do abraço dele, a confortava, mas não se sentira muito bem junto a ele naquela noite.
-O que aconteceu?
-Nada, na verdade, não sei.
Ele sentira sua nostalgia, talvez ele a conhecesse melhor do que ela mesma, começava a se questionar se ambos fizeram o correto.
-Que que eu faça alguma coisa?
-Apenas que me deixe tocar mais um pouco sozinha.
-Ok, tomarei um banho, se precisar é só gritar. -ele beijou sua testa, pegou seu pijama e dirigiu-se ao banheiro.
Ele ligou o chuveiro e devagar entrou embaixo da água fria, que caíra por seu corpo como se fosse uma mãe tentando desesperadamente alertar seu filho de um perigo iminente. Ele fechou seus olhos e pôs-se a pensar.
Ela terminou a cerveja e depois de um dedilhado que parecia sussurrar tudo o que ela sentia, largou o violão e se deitou, passava a mão por sua tatuagem, lembrando do dia que foi feita e do porque daquela frase. Possuída pela nostalgia, fechara os olhos também. Depois de um tempo, pegou no sono.
Ele saiu de seu banho após derrubar algumas lágrimas discretas que se misturavam à água que escorria de seu rosto, não vestiu seu pijama, foi até o quarto enrolado na toalha e vestiu um agasalho esportivo. Sentou na cama mais uma vez, passou a mão pelos cabelos loiros dela.
-Eu te amo, sabia?
Ela se mexeu e sem abrir os olhos, indagou o porque.
-Eu também gostaria de saber, mesmo gostando do mistério que é esse sentimento pra mim, as vezes me pego pensando no porque ainda insisto nisso,porque ainda insisto em nós, nessa minha fantasia, acho que você não sente o mesmo, não sei, mas é o que parece quando te vejo assim, com feição de quem está pensando em outra coisa e não está “aqui”. Você me ama?
Silêncio, ela havia dormido de novo, dessa vez ele olhou para a aliança, respirou fundo, levantou.

No outro dia o telefone tocou de manhã, ela levantou correndo atender, era do banco oferecendo uma promoção, ela desligou. Do lado do telefone tinha um bilhete.
“Eu sei que eu te amo e sei os motivos, mas acho que você deveria ter um pouco mais de coragem para poder ver quem você realmente ama. E de tanto eu te amar, estou deixando você livre para pensar no que você quer fazer.
Se precisar de mim para qualquer coisa, estarei no meu celular, só não me peça para voltar, eu sei que isso será melhor para nós dois.
Eu te amo.”
Um tanto perplexa com aquilo ficou parada ali, em pé por alguns minutos que não saberia dizer quantos foram, olhou no relógio, eram 11 e meia da manhã, foi até a cozinha pegar algo para comer, seu corpo estava fraco. Preparou um sanduíche e foi para a frente da televisão.
O telefone tocou mais uma vez, ao ouvir a voz do outro lado da linha quase ficara muda, seu coração ao mesmo tempo que batia descompassado sentia uma tranquilidade que buscara desde o dia anterior.
-Me vi pensando incessantemente em nossa tatuagem desde ontem e resolvi te ligar para ver como você está, sinto tanta saudades tua!
Era a sua melhor amiga no telefone, ela morava em outra cidade, na cidade que antes moravam as duas.
-Eu também estou morrendo de saudades de você.
O papo se estendeu por horas, horas de risos e felicidade.
-Pensei em ir visitar vocês esse feriado, vocês estarão em casa?
-Esqueci de te falar, nós estamos dando um tempo, mas eu estarei em casa, pode vir!
-Mas tempo porque? O que aconteceu?
-Ah, venha que eu te explico tudo pessoalmente.
-Haha, desculpa para eu ir né? Tudo bem, chegarei aí amanhã de tardezinha, tenho algumas pendências a resolver aqui ainda.
-Estarei te esperando.
Elas desligaram, um alívio tomou conta da casa. Ela foi até o quarto e pegou seu diário, escreveu tudo que estava sentindo, foi até o banheiro e o deixou em cima do armário.
Anoiteceu, ela foi fazer algo para comer, passou o dia sem comer nada além do sanduíche de manhã.
Pegou uma lasanha congelado e colocou no micro-ondas para esquentar, se sentiu tonta e foi até a sala, que ficava ao lado sentar. Sentiu um aperto no coração, pegou o telefone e ligou para a sua amiga.
-Oi, aconteceu alguma coisa?
-Não, só liguei para dizer que te amo e não te deixar esquecer que independente do que aconteça, ou do que o mundo nos reservar, eu sempre estarei perto de você e eu sempre te amarei.
Nenhuma das duas tinha entendido muito bem o sentido daquilo.
-Eu sei amor, eu também sempre estarei perto de você, te amando, te aturando e te segurando.
Ela desligou, a luz começou a fraquejar, ela imaginou que seria alguma queda de luz que acontecia meio direto em sua casa, sentiu cheiro de queimado vindo da cozinha, não ouvia mais o barulho do micro-ondas funcionando, resolveu ir até lá. Ao chegar perto já podia ver uma labareda de fogo que queimava selvagemente a cortina que ficava próxima à tomada, correu para o quarto pegar o extintor. Na hora em que chegou já podia ver o fogo saindo pela janela, olhou para o fogão, paralisou, naquele momento, silêncio, aquele sorriso veio de novo à sua mente. O fogo atingiu o botijão de gás.

A melhor amiga tentava insistentemente ligar para ela ainda naquela noite, não conseguia resposta, pegou o carro e dirigiu sem parar até a casa dela.
De longe dava para ver a fumaça escura que subia de alguma casa perto da casa dela.
A cada metro que chegava mais perto entrava cada vez mais em desespero. Era madrugada.
Chegou enfim na casa, agora metade em ruínas, imóvel seu olhar fixou naquele carvão que tinha virado a casa que tanto lhe fazia feliz. Viu ele vir correndo em sua direção, com os olhos inchados e a voz presa por um grito que ansiava em sair, abraçou-a, ela desandou a chorar.
-Ela estava...?
-Sim, lá dentro...
Ela então reparou no carro do IML que estava parado ali, junto com o caminhão de bombeiro e os carros da polícia.
Ele tinha na mão um caderno, intacto. Desgrudou-se dela.
-Acho que isso deve ficar contigo. -era o diário dela.-o policial disse que estava no banheiro, que não pegou fogo e incrivelmente permaneceu intacto, eu sempre respeitei ela e sinceramente não quero ler o que está escrito aí, tenho certeza que ela gostaria que você lesse o que está escrito, e tenho certeza também que o que está escrito envolve você. Eu a amei demais, mas acho que o papel de melhor amigo deveria ter ficado pra mim e o de amante para você. Eu vou sair daqui, estou ficando louco, preciso respirar, se quiser, pode passar lá na casa de um amigo meu, onde estou “hospedado”- ele entregou um bilhete com um endereço, um telefone fixo e um celular- pode ligar se precisar.
Ela olhava para o diário em suas mãos, tentando não olhar para a casa, evitando um desespero ainda maior. Entrou em seu carro e dirigiu até um campo de futebol de arei mal tratado que tinha ali pelos arredores, era onde elas iam conversar, assistindo as crianças jogando bola e relembrando de seus tempos de crianças e adolescentes inconsequentes, ergueu as mangas e ficou estudando a frase em latim tatuada em seu antebraço. Lembrou da briga que foi para escolher aquela frase.
“Mas olha, pensa comigo, nós duas sempre tivemos vontade de voar e sempre quisemos a liberdade para nós, quando estamos juntas, o nosso amor permite que voemos nem que seja com pensamentos, o NOSSO amor NOS dá asas”
Lágrimas escorriam constantemente de seus olhos ao lembrar, soluçava chorando feito criança.
Abriu o diário e começou a ler as primeiras páginas, tinha escrito algumas piadinhas sem graça que ela vivia fazendo, alguns relatos do que acontecera naquele determinado dia, alguns lembretes de médico, compras e pagamento de contas. Começou a folhear, no meio haviam poemas não assinados, ela sempre quis ler um de seus poemas, mas nunca lhe fora permitido. Continuou folheando, até chegar à última folha que continha alguma daquelas palavras doces.
“Hoje quando vi aquele bilhete que ele me deixou realmente parei pra pensar nos meus sentimentos, nas coisas que importam pra mim, nas coisas ao qual fugi, nas coisas que pensei fazer certo e que em determinado momento só me fizeram perceber que não adianta eu fazer o que eu acho que está certo não sendo o certo. Pensei nela enfim, nos anos em que passamos juntas, nas coisas que prometemos, que dissemos uma para a outra, nas loucuras que fizemos, os sonhos que realizamos e finalmente na merda que eu fiz ao tentar me livrar de uma coisa que talvez só tenha conseguido dar nome agora, não, espera, eu não sei dar um nome para isso, mas eu sei o que é, eu sei como fez com que eu me sentisse, e eu sei que casar com ele, por mais que eu não considere que foi uma besteira, por realmente gostar dele, foi um certo erro, porque o fiz com objetivo de esquecer ela, coisa que não aconteceu, não consigo olhá-la como uma amiga, nem como melhor amiga, eu a considero mais do que isso, ela é minha amiga, minha melhor amiga, minha irmã, minha companheira, meu amor, mas gostaria que ela fosse também a minha amante. Espero que agora que ela vem pra cá depois de tanto tempo (isso se eu não morrer de ansiedade esperando por ela) eu possa dizer para ela tudo o que eu sinto, e espero que ela não me leve a mal, não sinta nojo de mim, não me odeie... Agora eu sei o que eu preciso: DELA, ah, e como eu amo ela *---*”
Lágrimas e mais lágrimas, olhou para o lado, o balanço balançava sozinho, não havia vento, o balanço parou, ela sentiu um calafrio, podia sentir perfeitamente o cheiro dela.
“Eu sempre estarei perto de você e eu sempre te amarei.”
Se eu fizer amor com a minha metade, isso pode ser considerado masturbação?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Hoje, independente do dia que seja, é o dia em que se deve fazer com que a vida valha a pena.
É o dia que deve ser aproveitado como se fosse o seu último dia de vida.
Espera, se eu soubesse que esse seria meu último dia de vida, eu não aproveitaria-o fazendo loucuras como todas as pessoas que são questionadas quanto ao que fariam em seu último dia fariam.
Porque eu já tive 17 anos para fazer as coisas que me deram vontade ou que fariam sentido para mim.
Nostalgia, coisa que me irrita. A vida é o que eu quis que ela fosse ou ainda o que o resto do mundo permitiu que ela fosse. Como já afirmado, não me arrependo de nada do que fiz, talvez até nem mesmo do que deixei de fazer. Motivos existiram, sempre existirão, porque é exatamente o que me faz continuar vivendo, de cabeça erguida, ou não.
Se hoje fosse meu último dia de vida, eu não gastaria ele lembrando das coisas que me fizeram sorrir, das pessoas que me fizeram sorrir ou até mesmo chorar. Não me despediria de ninguém, escreveria, passaria todo o tempo sentada, sozinha, escrevendo todas as coisas que senti, que sinto, agradecendo, criticando, qualquer coisa que me desse vontade de escrever, mas apenas escrever. Não falaria com ninguém, não iria atrás de ninguém, não avisaria ninguém.
Colocaria meu fone, ouviria todas as músicas que me tocaram, mas sem sentir saudades, sem derrubar nenhuma lágrima.
As pessoas que fizeram e fazem diferença na minha vida, sabem disso. Mesmo que eu nunca tenha dito.

sábado, 30 de outubro de 2010

E foi mais um daqueles dias em que eu poderia sair gritando na rua dizendo tudo que eu estava sentindo que não me importaria com a reação das pessoas.
Nada daquilo que estava ao meu redor me importava mais, meu coração parecia querer sair para fora de meu corpo, meus olhos só enxergavam em uma direção, a sua direção.
E eu poderia dizer que aquele fora o dia mais perfeito da minha vida se tivesse acontecido.
Acordei sentindo uma dor forte em minha cabeça, ao lado da minha cama uma garrafa de uísque vazia e um copo caído, haviam bitucas de cigarro por todos os lados, a televisão estava ligada e a porta entre-aberta.
Me sentia tonta, tentava desesperadamente lembrar do que havia acontecido naquela noite. Por um minuto não lembrei que dia era, pensei estar atrasada para o trabalho. Olhei no celular, era domingo, dia 21 de novembro.
Eu estava sem calças, elas estavam perto da televisão, ao lado de uma poça de água, provavelmente gelo derretido, e uma regata branca, justa ao corpo. Levantei, desliguei a televisão, minha cabeça parecia latejar agora, ainda escutava a voz da apresentadora de um tele-jornal local.
Fui até a sala, onde havia outra tv.
Deitada no sofá, cochilando estava ela. A mesma menina com a qual eu sonhara aquela noite. Minha melhor amiga, meu amor.
Agachei-me ao seu lado, observei-a dormir, oh Deus, de onde vinha tanta perfeição?
Ela me transmitia paz, só de vê-la meu coração se acalmava.
Não resisti, passei a mãe em seu rosto. Ela acordou, me olhou assustada, parecia não entender e isso me machucava. Era tão simples, eu só queria ela pra mim e ponto, mais nada. Pena que na prática não era assim, não reunira forças por todos esses anos que passamos juntas para dizer-lhe isso.
Ela sentou, olhou para mim, seus olhos azuis cor de mar me faziam navegar em meio à perdição de sua beleza.
-Você está melhor?
-Minha cabeça parece querer explodir, o que aconteceu? Como você veio pra cá?
-Você não lembra de nada?
-Lembro de quando abri a garrafa que está no meu quarto, bebi uma dose e fui para a festa, você estava lá?
-Não, você me ligou, dizendo que precisava conversar comigo e eu fui. Cheguei lá você já estava meio bêbada, eu tentei conversar contigo, mas foi quase impossível. Te trouxe até aqui e fui embora.
-Mas como você está aqui agora?
-Depois eu te explico direito, preciso ir agora.
-Não, fica mais um pouco, eu faço café.
-Não posso, não dá.
-Porque?
-Não posso.
Ela pegou sua jaqueta e suas chaves que estavam em cima da mesa e foi embora, antes de fechar a porta olhou para trás, poderia jurar que vi seus olhos cheios d'água se não estivesse com aquela terrível ressaca.
Meu dia passou normalmente, como qualquer domingo sozinha que passo, comendo pipoca e assistindo filme. Eram cerca de cinco da tarde quando meu interfone tocou, era o porteiro.
-Você está melhor?
-Sim, estou.
-Até eu fiquei preocupado, não tanto quanto aquela moça, mas fiquei.
-Ela se preocupou tanto assim?
-E como, te levou para o apartamento praticamente no colo, com todo o carinho. Tentou ir embora, mas voltou, acho que ficou com medo de te deixar sozinha.
Eu não entendi muito bem o porque, mas nada poderia me deixar mais feliz que aquilo. Ela tinha voltado por mim.
Tentei voltar a assistir meu filme, não consegui, não prestaria atenção em mais nada.
Peguei meu celular para ligar para ela, fiquei digitando e apagando seu número, incerta de que era a coisa certa a se fazer, o que eu teria dito para ela? Porque ela teve que sair tão depressa daquele jeito?
Estava digitando mais uma vez o seu número, quando o celular começou a vibrar, era ela.
-Hey, você vai ficar em casa agora?
-Sim, porque?
-A gente precisa conversar. Posso passar ai?
-Pode, estou te esperando.
O que aquilo poderia significar? Tentei não pensar tanto naquilo, em vão.
Arrumei por cima a bagunça que estava a casa, joguei fora a garrafa vazia e enquanto catava bitucas, a campainha tocou.
Sai correndo atender. Era ela.
Abri a porta, nossos olhares se encontraram, ela tentou desviar.
-Posso entrar?
-Como se você precisasse de permissão para entrar aqui.
Ela entrou, largou suas coisas com uma certa lentidão, evitava me olhar.
-Então, você disse que precisávamos conversar, sou toda ouvidos.
-Você não se lembra mesmo de nada do que aconteceu ontem? De nada do que você falou?
-Não, olha, desculpa se te incomodei, se te fiz perder tempo, se te falei besteiras, mas eu realmente não lembro de nada, se fiz algo que te magoou, me conte para que eu possa me desculpar.
Ela veio mais perto, sua respiração estava ofegante, ela me abraçou.
Meu coração acelerou.
Sussurrando em meu ouvido:
"Eu também te amo e quero você."
Ela virou meu rosto e meu beijou.
Eu ainda não sabia o que tinha feito naquela noite, mas agradeci à deuses que eu nem acredito por tê-lo feito.
Por fim, meu sonho não foi assim tão surreal.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

E mais uma vez eu me sinto sozinha, por mais pessoas que tenham ao meu redor, só consigo sentir a solidão e o vazio que toda vez que me iludo com aquelas palavras, aparecem fazendo com que eu queira morrer.

Morrer para acabar com essa angústia, a angústia que teu amor me dá, a angústia proporcionada por toda a incerteza de seu amor e sua fidelidade.

E eu insisto em ignorar os conselhos que aquelas pessoas que estão à minha volta me dão, com todo o intuito de me ajudar a fazer com que essa dor cesse, ou apenas com que ela se camufle, como todas as outras vezes em que depois de pensar, chorar e me desesperar por você, ela acabou se escondendo.

Talvez tenha se escondido com erros meus, sim, posso chamá-los de erros, pois qualquer ato meu que machuque outra pessoa com objetivo de me salvar deve ser considerado um erro.

Talvez até o erro específico seja te amar, esse amor doentio e obcecado que alimentas toda vez que enche a boca para dizer que me ama.

E mesmo que eu pense que o erro é meu, simplesmente por não conseguir, não, verbo errado, por não saber te dizer não e deixar que penses que para toda e qualquer obra eu estarei aqui.

Não conseguiria fugir, eu estarei sempre aqui, mesmo que me machuques como faz toda vez que se refere à outra pessoa com aquela sua euforia de garota apaixonada.

E porque eu insisto nisso tudo? Simplesmente pelo fato de que eu não sei viver sem você, por mais melodramático e absurdo que isso pareça, é a realidade, a minha realidade, a sua realidade. Assim como você não consegue viver sem mim, mesmo que seja para me ter como step para a hora em que seu coração chorar por outro alguém.

Entenda que nada do que eu te disse até hoje foi em vão, que nenhum sentimento que expressei ou guardei foi de mentira. Fora a realidade mais cruel que já enfrentei e enfrentei muitas e muitas vezes, sempre de cabeça erguida, sempre seguindo depois de cair de uma altura absurda.

Não é que eu goste de sofrer, a questão é que de todas as vezes que meu coração se partiu, ele já não sente mais tanta dor quanto sentia antigamente, no início. Na época em que não ligava tanto para sentimentos.

Mas hoje mudou, por mais jovens que nós sejamos, por mais tempo que tivermos até o fim, eu não sei mais se posso acreditar quando você diz que quer. Nem quando diz que me quer, nem quando diz que quer terminar.

Eu não sei mais como interpretar seus sentimentos e suas vontades. Eu me machuco toda vez que sinto que não ocupo um lugar tão especial, nem tão grande da sua vida.

Eu que já escrevi tanto sobre o amor, que já dei tanta opinião em relacionamentos de pessoas que eu conheço, pessoas que eu não conheço, que já fantasiei tanto com relação à isso sinto como se não soubesse mais nada, e eu realmente não sei mais o que fazer, nem o que pensar, nem onde me apoiar.

Eu queria de volta a inocência de criança, onde eu não conhecia sentimentos, onde qualquer bola me deixaria feliz e qualquer doce poderia me satisfazer.

Eu não quero mais meu coração.

sábado, 9 de outubro de 2010

E eu não sei porque, mas minha inspiração para escrever foi embora.
Eu senti saudades, eu senti ciúmes, eu senti inveja.
Além de tudo, eu me senti burra, eu me senti lerda, culpada.
E eu ainda senti que existem coisas que eu não sei sentir sozinha.
E eu não sei mais o que sentir.
Nossos olhares se encontraram, seguidos de um longo silêncio.
Eu não pensava em mais nada.
Não conseguiria desviar meu olhar de seus olhos, nem que eu quisesse.
O tempo parou, a chuva que caía barulhenta pareceu silenciar, mesmo com os pingos escorrendo pelo vidro.
O frio cessou, meu coração disparou.
Eu fui em sua direção, ela também veio.
Nossos lábios se tocaram, sentia minha mão tremer, minhas pernas ficaram bambas.
Ela se afastou de mim, sorria, eu também.
Ela me abraçou, acolhê-la em meus braços naquele momento talvez tenha sido a melhor coisa que eu já tenha feito.
Meu coração estava querendo sair para fora, achei que fosse infartar.
Foi com um beijo que tive certeza de que amo ela.
Simples assim, amor.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eu acredito nas palavras ditas à mim, quando são direcionadas diretamente aos meus ouvidos, quando eu sinto um olhar verdadeiro, quando eu vejo sentimento.
Eu acredito que ainda há saída, que eu ainda vou poder me entregar inteira e verdadeiramente à alguém que me diga as coisas que eu preciso ouvir.
E eu ainda sei que mesmo que eu diga que essa pessoa não está ao meu lado, ou que essa pessoa não existe ou ainda que ela não se importa, eu sei que eu posso olhar pra trás que na minha história eu tenho pilastras o suficiente para me manter forte.
Essa pessoa existe, essa pessoa pode ser várias pessoas, essa pessoa pode ser um objeto, independente do que seja, de quem seja.
E eu vou acreditar que enquanto eu respirar por alguém, alguém respirará por mim também.
Eu vou acreditar nas cartas à mão, nos versos simples, nas rosas, nos corações, nas declarações, nas acelerações cardíacas, nos suspiros, eu vou acreditar no romantismo.
Eu vou acreditar no amor.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

E eu começo a duvidar de todas as palavras que eu disse, de tudo que eu afirmei sobre o amor. Não era aquilo que te faz bem sempre? Não era pra ser algo que alimentaria minha alma e me faria completa, sem nada de ruim?
Pois o que eu sinto agora é um inexplicável vazio dentro de mim, uma dor que talvez eu nunca tenha sentido igual. Afinal se eu disse que eu a amaria para sempre, e ela me disse o mesmo e do mesmo jeito quem faz ela feliz não sou eu, e quem me faz feliz não é ela, o que me resta a respeito? A sutil diferença é que mais uma vez, a pessoa pela qual eu sorrio à toa agora, é uma pessoa que não me ama, que mesmo que talvez me enxergue como mulher, tenha seu coração entregue à outra. Mas e o meu?
Meu coração cansado de bater já não sabe a quem se entregar. Pois para todas as pessoas que ele amoleceu e se deu, ele voltou para mim com pelo menos um esfolado a mais. Só sei que desse último tombo que ele levou, foi a artéria principal que voltou obstruída. E talvez de felicidade e paz eu já não entenda muito, mas de dor, nesse assunto sou expert.
Quando é que essa agonia vai passar?
Ela sentia as gotas pequenas de chuva caírem finas sobre seu moletom preto. Podia sentir o cheiro dela em sua roupa. Atravessou a rua sem olhar para os lados, no lado esquerdo não vinha carro, ao ouvir uma buzina parou. Estava em cima da faixa amarela, no meio da pista. Ergueu a cabeça, naquele momento vinham carros dos dois lados da rua. Ela continuava parada. Não sentira medo, os carros passavam por ela fazendo vento. Tão perto que ela poderia até dizer se o carro usava gasolina ou álcool, se seu pensamento não estivesse tão longe.
Estava frio aquele dia, ela sentia o vento bater em sua cara, cortante, mas aquilo não a afetava naquele momento.
Ela erguera a cabeça, liberando um longo suspiro, tentando aliviar a angústia. Tentativa vã.
Ao atravessar a rua, vira algo inusitado. Mais uma vez a borboleta branca estava pousada, batendo levemente suas asas sobre uma flor que ela não saberia dizer qual é, mas que eu tenho quase certeza de que era um lírio.
Continuou andando, dessa vez em direção da borboleta. A mesma, ainda imóvel.
Chegou perto, parou. Sua mente se livrou por um instante de todos aqueles pensamentos que a assombraram pela manhã inteira.
Ela tentou encostar na borboleta, que logo voou alto, impossibilitando que fosse tocada.
Ela ficou observando, até que não sentiu mais nenhum pingo de chuva. Olhou para o chão e logo para o céu, as nuvens deram espaço para que o sol aparecesse. Brilhante.
Atordoada, tentou achar a borboleta, mas ela tinha sumido.
Com o sol ainda brilhante, seu celular tocou.
Era a única pessoa com a qual ela desejava infinitamente falar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tinha sido mais um daqueles dias em que tudo que eu mais quero é deitar na minha cama, ligar a televisão e dormir com ela ligada, sem querer.
Sai correndo do trabalho, peguei meu carro, com pressa. Na avenida que atravessava a rua paralela a que eu morava, tinha um pequeno restaurante. Nunca parava ali, pelo menos nunca sozinha.
Mas naquele dia eu olhei no relógio, e ele marcava quinze minutos a menos do que eu costumava chegar em casa. Resolvi parar.
Estacionamento fácil, não levei nem 3 minutos para manobrar. Entrei.
O ambiente tinha sido reformado e parecia que os donos tinham trocado o decorador. Agora estava uma coisa meio indiana, não sei explicar bem, dessas coisas eu não entendo nada.
Sentei em uma mesa ao lado da janela, o que me permitia estudar o movimento da rua e das pessoas que por ali passavam.
Um garçom novo, jovem, alto, robusto apareceu com o cardápio na mão, enquanto eu olhava as fotos dos pratos o rapaz falava sobre as sugestões do cheff e dele próprio.
Fiz meu pedido, ele se virou e foi para a cozinha.
Meu olhar o seguiu, logo que ele sumiu pela porta giratória branca, um reflexo irritou me olho, desviei o olhar rapidamente, mas tomada pela curiosidade voltei a olhar para a mesma direção.
Do outro lado do restaurante estava sentada uma moça com cara de menina. Uma moça que passeava suas mãos com unhas pintadas de vermelho pelos seus longos cabelos preto azulado. Era a pele mais branca que eu já tinha visto na minha vida, não consegui parar de olhar para ela. Os carros e as pessoas na rua, ficaram de lado.
A moça virou sua mão e mais uma vez o reflexo veio em minha direção, dessa vez, só cerrei o olho. Não conseguira desviar o olhar. Era seu relógio que fazia o reflexo, um relógio de pulso feito de metal. Parecia com o meu, o dela estava no pulso direito, o meu, no esquerdo.
Ela cortava um pedaço de carne em seu prato, tal delicadeza que parecia ser feito com dó.
Eu a observava.
Meu prato chegou. O dela acabou. Ela pediu a conta.
Minha comida esfriava no prato, enquanto eu imóvel, sentia meu coração acelerar.
Ela olhou em minha direção, ao encontrar seus olhos azuis, pela primeira vez consegui desviar o olhar.
Sentia o olhar dela agora em mim. Pouco antes de ela sair, olhei pra ela de novo. Ela sorriu e foi embora.
A minha noite tinha acabado.
E eles dizem que eu me estrago toda vez que eu tento buscar uma saída para aquilo que eu sinto dentro do meu peito.
Aquilo que eu não poderia definir com um nome, que de tal imensidão não caberia no contexto de uma só palavra, nem com suas entrelinhas.
Eu não sei se culpo o Português, por não ter uma palavra que se defina, ou se culpo a mim mesma, por não saber dividir e denominar.
Porque eu sei como surgiu, só não sei bem ao certo quando, nem aonde. Mas eu sei que foi com um olhar, com um abraço.
Eu também sei que eu só pude identificar depois que corações eu parti, sem sequer fazer cócegas ao meu. Ao meu coração, que mal sabia eu, estava a postos debaixo de seu carinho, da sua proteção.
Ainda sei também que a luta é vã. Porque ela não vai acabar com nada daqui.
Só não sei também como pode se misturar com todas aquelas outras coisas que estavam escondidas, em um canto, mas que vieram de uma só vez.
Não sei como eu deixei que aquilo tão lindo, tão puro, fosse tomado pela mancha negra que aquele outro impõe.
Vazio.
E ainda vêm me criticar por eu tentar colocar em ordem as coisas aqui dentro?
Por eu tentar preencher a coisa que mais doeu e continua doendo em toda minha vida?
Não vai ser assim que as coisas vão melhorar, eu sei disso, você sabe disso, todo mundo sabe disso.
Mas não é terrível dizer para uma criança que todos aqueles personagens que ela acredita que trazem presentes pra ela não passam de uma mera ilusão?
É muito mais bonito ver um sorriso falso, à uma lágrima verdadeira.
Mesmo que seja necessário encarar realidade para sobreviver, é necessário fingir que está tudo bem.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ela caminhava sozinha pela rua deserta.
Asfalto e mais asfalto.
Desejava que alguém lhe abraçasse agora.
Ninguém ali.
As nuvens escuras no céu se fechavam.
No fim da rua havia uma árvore.
Uma única árvore com suas folhas já em tons de marrom.
Seguiu adiante com seu fone no ouvido.
A música embalara seus passos.
Andava chutando pedrinhas, mas sem tirar os olhos da árvore.
Estava chegando perto, em seu ombro pousou uma borboleta branca.
Como quem incentiva alguém a continuar, a borboleta bateu suas asas no ombro dela e voou.
Pousara na árvore, ela a seguiu com os olhos, paralisada.
O branco das asas se contrastavam com o tronco.
Ela desejou poder voar.
A música continuava baixinha por seus ouvidos.
A borboleta levantou voo, como se tivesse cumprido seu papel foi embora.
A menina não se sentia mais sozinha naquele momento.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ela me puxou, estava sentada, eu de pé.
Caí em seu colo.
Tentava não deixar com que ela sentisse o peso de meu corpo.
Mas ela brigava comigo.
Dizia insistentemente que aguentava.
Conversávamos entre pequenas discussões sobre meu peso.
Um silêncio se estabeleceu por um instante.
Ela olhava para mim fixamente nos meus olhos.
Eu não conseguia tirar os olhos de sua boca.
Me aproximei.
Segurei seu queixo.
Sua boca abriu, parecia esperar pela minha.
Eu a beijei.
Um beijo tímido, acompanhado do embalo do ônibus se estendeu.
Lombada.
Nos separamos.
Não sei quem estava com mais vergonha.
O castanho de seus olhos refletia os meus.
Confesso que vi um brilho naquele instante.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Orgulho não é pecado, pelo menos não grave: orgulho é coisa infantil em que se cai como se cai em gulodice. Só que orgulho tem a enorme desvantagem de ser um erro grave, com todo o atraso que o erro dá à vida, faz perder muito tempo."
(Clarice Lispector)

domingo, 29 de agosto de 2010

Ao desligar o telefone Rafaela sai correndo do seu quarto, passa pela sala onde sua mãe está assitindo a novela, bate a porta com força e senta no quintal, naquele mesmo lugarzinho escondido a qual passava horas olhando a lua e as estrelas com Andréia. Sua mãe vem atrás e pergunta o que aconteceu, Rafaela já não tem mais nenhuma desculpa para justificar as lágrimas que caíam de seus olhos.
-Briguei com a Andréia! Me deixa quieta aqui, eu quero ficar sozinha!
-Brigou com aquela sua amiga estranha? Eu falei que não era para você continuar falando com ela, aquela menina estranha...

Sua mãe ficou um tempão ali parada ao seu lado a culpando por algo que ela nem tinha certeza do que era, mas ela já não tinha noção do tempo e não prestava mais atenção no que a mãe dizia. Levantou a cabeça, olhou para o céu e reparou que estava escuro, mais escuro que o normal, não enxergava a Lua e as estrelas não pareciam ter muita vontade de brilhar naquela noite fria. O vento estava forte e gelado, sentindo ele bater na sua cara se deu conta de que não teria mais as mãos quentes e firmes de Andréia para segurar as suas, não sentiria mais os lábios grossos e carinhosos de sua amada junto aos seus, sentiu então um forte aperto no coração, levantou e reparou que sua mãe não estava mais ali.
Foi até o seu quarto após algumas horas sozinha no frio, ligou o rádio, na estação que ela sempre ouvia, e logo começou a tocar aquela música que ela tinha declarado à Andréia uma semana antes e saiu tropeçando no lençol jogado ao chão para desligar o rádio. Sem mais nada fazendo sentido, pegou o celular e discou o número de sua amada, discava e apagava, discava e apagava, fez isso umas sete vezes e sem mais forças para nada pegou no sono com o celular na mão.
Era umas 3 e meia da manhã quando sentiu seu celular vibrar, acordou rápido com uma pontinha de esperança dando a ela uma vontade enorme de gritar, antes que o celular começasse a tocar aquele toque tosco que sempre fazia Andréia rir ela atendeu, não deu tempo nem de olhar quem era, sem noção de horário, falava alto, do outro lado da linha uma voz trêmula implorava para que ela diminuisse o tom da sua voz.
-Me desculpa Rafa, eu fui uma idiota, eu sei que você não teve culpa, eu sei que não teve sentimento, eu te amo, eu não posso ficar nem mais um minuto sem você! Me perdoa?
Abalada com aquelas palavras que sonhou ter ouvido, Rafaela não tinha palavras, não conseguia emitir uma palavra que não parecesse um grunhido e antes que pudesse falar algo Andréia prosseguiu:
-Olha, eu sei que fui estúpida contigo, que eu fui irracional, mas... você sabe o quanto você significa pra mim! Você sabe que a idéia de ter que imaginar você com outro me enoja, me deixa tonta e perdida. Eu sei que foi a sua prima quem te obrigou, eu conheço a tua mãe, sei que ela não aceitaria e sei o quanto ela é importante para você. Por favor me perdoa!
Rafa já não sentia mais as suas pernas, chegou perto da janela e sentiu seu coração bater tão forte quanto na primeira vez em que se beijaram
-Amor, viu como praticamente não tem estrelas no céu hoje?
-Elas estão tão abaladas quanto eu, me perdoa?

Rafa se sentia cada vez mais machucada a cada palavra que saía da voz doce e firme de Andréia que agora soava meio gaga, meio triste e tentando ser o mais firme possível disse que estava indo para a casa de Andréia naquele momento.
Andréia não teve tempo de responder, Rafa, antes de se arrepender, chamou um táxi e desligou o celular.
O táxi chegou em menos de 10 minutos na frente da casa de Rafa, o que para ela, parecia uma eternidade, já que cada segundo insistia em se arrastar.
Levou mais 15 minutos para chegar na casa de Andréia, Rafa esqueceu de pegar o troco e saiu corredo do táxi, batia desesperadamente na porta e Andréia demorou um pouco para abrir, quando ela ouviu o barulho das chaves girando sentiu seu coração pulsar mais uma vez e logo que Andréia apareceu na porta Rafa a agarrou como nunca tinha feito a ninguém antes, com tal paixão que nem se deu conta de que a porta ainda estava aberta e o táxi parado ali na frente, Andréia, com os olhos inchados, fechou a porta, abraçou Rafa, olhou em seus olhos doces que sempre foram o motivo de seu sorriso e disse:
-Seu cabelo nunca esteve tão lindo!
Rafa passou a mão pelos seus longos cabelos pretos e lembrou que não tinha penteado, nem se arrumado. As duas caíram na gargalhada e Rafa lembrou de todos os momentos em que Andréia a tinha feito sorrir, elas então se beijaram numa intensidade a qual nunca imaginou.
Andréia deu um leve empurrãozinho em Rafa, que a olhou com um olhar meio perdido e mais uma vez com a voz firme, que sempre confortava Rafa nos seus piores momentos disse
-Eu te amo mais que tudo, fica comigo essa noite...

sábado, 28 de agosto de 2010

Deito minha cabeça sobre seu colo.
Suas mãos passeiam carinhosamente pelo meu cabelo ainda molhado.
Ela olha para fora, para longe.
Sua respiração oscila, ela parece não estar ali.
Olho para ela, peço para que devolva o olhar.
Ela vira a cabeça devagar.
Encontro seus olhos querendo ajudar seu coração.
Uma lágrima tímida surge no canto do olho esquerdo.
Naquela lágrima, seu olho tentou expulsar a dor.
Em vão.
Eu sorri, talvez o sorriso mais forçado da minha vida.
Ela com tamanha obrigação me devolveu o sorriso também.
Eu o peguei e senti que também fora forçado.
Não a culpo, não me culpo.
Sorrisos podem ser belas saídas, mas tem horas que eles não se encaixam na situação.
Prevaleceu o silêncio.
Eu gosto disso, não entendo porque as pessoas tem tanta sede de palavras.
O silêncio às vezes diz muito mais, de uma forma muito mais clara.
Um olhar, foi o que dela levei de melhor.
Ela moveu sua mão até meu rosto, delineava as curvas do mesmo.
Eu fechei meus olhos, no meu peito agora batia um coração que parecia não ser meu.
Quando os abri, vi os dela fechados.
Por suas bochechas escorriam lágrimas brilhantes, lágrimas que pareciam de aço.
Eu não tinha visto-a chorar até então.
Pulei de seu colo.
Ela me olhou como criança em colo estranho.
Eu não vi minha cara, mas tenho certeza que dali só se via preocupação.
Abracei-a. Forte.
Ela demorou a envolver seus braços ao meu corpo.
Aconcheguei-a em meu peito.
Eu te amo.
Foi a coisa mais linda que eu já ouvi.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Nenhum texto não presta quando é feito com intenção de demonstrar algum sentimento, alguma emoção.
Nenhum texto deveria ser descartado.


A vida é engraçada, talvez seja ainda mais que a sociedade.
Porque a vida levada dentro de uma sociedade, principalmente de uma sociedade falha, é a coisa mais irônica que existe.
Porque as pessoas vivem buscando a tal da felicidade eterna e acabam ignorando os pequenos momentos de felicidade instantânea, que no fim, seriam o bastante para manter uma pessoa viva e sorrindo, o que deveria de fato importar e bastar.
Grande parte das pessoas consideram Hitler um monstro, mas acabam intolerantes igual ele, aquele que eles consideraram monstro.
Afinal, quem foi o idiota que disse que a sociedade tem que ser assim?
Que sociedade é essa que exclui pessoas e não os concede os mesmos direitos de outro ser humano qualquer somente por uma diferença?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Eu segurei sua mão, estava mais gelada que o normal, pude até sentir ela tremer.

-Você vai ficar bem, amor, eu sei.- tentei acalmá-la, mas parecia que nada do que eu dissesse poderia ajudá-la.

Desde que ela tinha me contado da doença eu não dormia mais, não comia direito, minha vida parecia não ter outro motivo que não fosse estar do lado dela até o fim.

Na última semana ela havia piorado, não saí mais do hospital, ela não olhava mais diretamente nos meus olhos e eu não entendia o porque. Essa dúvida me matava, teria eu feito algo errado? Algo que a magoasse? Não sei, não conseguia me lembrar de nada que a tivesse deixado assim. Mas o pior é que eu não sabia como perguntar. Todas as vezes que seus olhos passaram rapidamente pelos meus, vi neles um abismo, mas um abismo diferente daquele que vi quando meu coração ela roubou. Naquele abismo que eu cai, eu não tive medo, eu quis me entregar à ele. Nesse abismo que vi de relance, pude perceber o medo e confesso que me apavorei um pouco com isso.

Desde que nos conhecemos, ela era para quem eu corria quando algo estava errado, ela era quem me levantava. Agora eu amaldiçoava a vida por vê-la ali, sofrendo, sem poder fazer nada.

Ela pegou no sono, ainda de mãos dadas comigo. Eu a soltei, peguei meu cigarro e meu isqueiro e fui para fora, acendi, vi o fogo queimar o papel, a brasa aumentando, lembrei de uma de nossas primeiras viagens, quando acendi a lareira e abri uma garrafa de vinho, a imagem dela sorrindo me veio à cabeça, meus olhos se encheram de lágrimas, eu fiquei tonta, me escorei em uma parede, escorreguei por ela até o chão, tentava controlar minhas lágrimas, não poderia demonstrar fraqueza, nem dor, eu tinha de ser forte. A brasa queimou meu dedo, como um reflexo larguei a bituca. Levantei e voltei para o quarto.

quando entrei ela estava acordada, sentei ao seu lado, respirei fundo, tomei coragem e perguntei porque ela não deixava eu me perder em seu olhar. Ela virou para mim.

-Eu não quero que você leve de mim a lembrança de um olhar vago, você foi a pessoa que mais deu sentido à minha vida, a pessoa que eu mais amei, eu quero que você leve de mim, a lembrança mais bonita que você tiver guardada em sua memória, e eu sei que isso nós temos de sobra, porque o que me faz sorrir agora são as coisas que nós vivemos e as coisas que você me disse.

Dessa vez, quem não conseguiu fixar o olhar fui eu, abaixei a cabeça e as lágrimas que eu tanto segurei, caíram.

-Você não precisa esconder tudo o que você está sentido, vida. Eu sei que você talvez esteja sofrendo tanto quanto eu, mas eu te amo, e por mais que eu seja o motivo dessa sua dor, eu também quero ser, pelo menos mais uma vez, aquela que alivia a sua dor.

Eu estava aos prantos, não poderia viver sem ela, não, aquilo não poderia nem ser uma possibilidade.

-Eu sei que vai ser difícil pra ti, mas lembra do nosso início de namoro, também foi difícil, mas nós superamos, juntas, e mesmo que eu vá, eu nunca deixarei de estar ao seu lado, te amando, como eu também sei que você nunca vai deixar de me amar.

-Mas você é a razão da minha vida. Eu não posso continuar vivendo sem uma razão.

-Claro que pode, tanto pode, como eu quero que você continue aqui, firme e forte. Você vai encontrar uma outra pessoa, eu sei, você é linda, querida, amável, mas eu preciso te deixar livre para ser feliz mais uma vez, eu preciso te deixar livre para que você possa proporcionar tudo o que você me deu para outro alguém. Você merece mais que ninguém ser muito feliz, com ou sem mim.

Eu não consegui falar mais nada, me ajeitei ao seu lado, abraçando-a com cuidado, talvez ela tivesse razão mesmo, mas demorou um bom tempo para eu começar a aceitar essa idéia.

Naquela noite, eu perdi o meu amor.

Você já se sentiu sozinho no mundo ao menos uma vez?
Sentiu seu coração queimar, como se a ausência de algo que tu nem sabe direito o que é fizesse com que ele desejasse profundamente parar de bater. Tentou escapar, mas as portas estavam lacradas e não havia saída de emergência. Buscou refúgio em vícios que não serviriam na verdade para nada além da fantasia e da facilidade de fingir a serenidade.
Como se tudo isso fosse fazer essa dor sumir.
Talvez essa seja a mais difícil sensação. Porque mesmo que existam pessoas que se importam contigo, existem coisas que são mais importantes para elas do que um abraço em ti.
Você anseia por um carinho, por um sorriso, mas tudo que acontece naquele momento faz com que você não tenha força suficiente para conseguir sorrir, para conseguir demonstrar uma felicidade que você realmente queria estar sentindo.
Você finge estar tudo bem, mas mesmo que você finja para que as pessoas não percebam, inconscientemente o que você mais precisa naquele momento, é que alguém perceba que aquilo está errado e te ajude.
Mas ninguém percebe.
Quando você está sozinho e parece que não tem como tu sentir mais dor, qualquer coisa triste que tu veja parece te afetar, mesmo que não tenha nada a ver contigo.
As coisas nunca são tão ruins que não possam piorar, mas mesmo que eu defenda essa ideia, eu sei que isso não vai durar para sempre. Porque eu sei que mesmo que eu esteja me sentindo um lixo, alguém se importa comigo, nem que essa pessoa seja minha mãe e ela não faça a menor ideia do porque de eu estar e sentindo assim.