quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Eu segurei sua mão, estava mais gelada que o normal, pude até sentir ela tremer.

-Você vai ficar bem, amor, eu sei.- tentei acalmá-la, mas parecia que nada do que eu dissesse poderia ajudá-la.

Desde que ela tinha me contado da doença eu não dormia mais, não comia direito, minha vida parecia não ter outro motivo que não fosse estar do lado dela até o fim.

Na última semana ela havia piorado, não saí mais do hospital, ela não olhava mais diretamente nos meus olhos e eu não entendia o porque. Essa dúvida me matava, teria eu feito algo errado? Algo que a magoasse? Não sei, não conseguia me lembrar de nada que a tivesse deixado assim. Mas o pior é que eu não sabia como perguntar. Todas as vezes que seus olhos passaram rapidamente pelos meus, vi neles um abismo, mas um abismo diferente daquele que vi quando meu coração ela roubou. Naquele abismo que eu cai, eu não tive medo, eu quis me entregar à ele. Nesse abismo que vi de relance, pude perceber o medo e confesso que me apavorei um pouco com isso.

Desde que nos conhecemos, ela era para quem eu corria quando algo estava errado, ela era quem me levantava. Agora eu amaldiçoava a vida por vê-la ali, sofrendo, sem poder fazer nada.

Ela pegou no sono, ainda de mãos dadas comigo. Eu a soltei, peguei meu cigarro e meu isqueiro e fui para fora, acendi, vi o fogo queimar o papel, a brasa aumentando, lembrei de uma de nossas primeiras viagens, quando acendi a lareira e abri uma garrafa de vinho, a imagem dela sorrindo me veio à cabeça, meus olhos se encheram de lágrimas, eu fiquei tonta, me escorei em uma parede, escorreguei por ela até o chão, tentava controlar minhas lágrimas, não poderia demonstrar fraqueza, nem dor, eu tinha de ser forte. A brasa queimou meu dedo, como um reflexo larguei a bituca. Levantei e voltei para o quarto.

quando entrei ela estava acordada, sentei ao seu lado, respirei fundo, tomei coragem e perguntei porque ela não deixava eu me perder em seu olhar. Ela virou para mim.

-Eu não quero que você leve de mim a lembrança de um olhar vago, você foi a pessoa que mais deu sentido à minha vida, a pessoa que eu mais amei, eu quero que você leve de mim, a lembrança mais bonita que você tiver guardada em sua memória, e eu sei que isso nós temos de sobra, porque o que me faz sorrir agora são as coisas que nós vivemos e as coisas que você me disse.

Dessa vez, quem não conseguiu fixar o olhar fui eu, abaixei a cabeça e as lágrimas que eu tanto segurei, caíram.

-Você não precisa esconder tudo o que você está sentido, vida. Eu sei que você talvez esteja sofrendo tanto quanto eu, mas eu te amo, e por mais que eu seja o motivo dessa sua dor, eu também quero ser, pelo menos mais uma vez, aquela que alivia a sua dor.

Eu estava aos prantos, não poderia viver sem ela, não, aquilo não poderia nem ser uma possibilidade.

-Eu sei que vai ser difícil pra ti, mas lembra do nosso início de namoro, também foi difícil, mas nós superamos, juntas, e mesmo que eu vá, eu nunca deixarei de estar ao seu lado, te amando, como eu também sei que você nunca vai deixar de me amar.

-Mas você é a razão da minha vida. Eu não posso continuar vivendo sem uma razão.

-Claro que pode, tanto pode, como eu quero que você continue aqui, firme e forte. Você vai encontrar uma outra pessoa, eu sei, você é linda, querida, amável, mas eu preciso te deixar livre para ser feliz mais uma vez, eu preciso te deixar livre para que você possa proporcionar tudo o que você me deu para outro alguém. Você merece mais que ninguém ser muito feliz, com ou sem mim.

Eu não consegui falar mais nada, me ajeitei ao seu lado, abraçando-a com cuidado, talvez ela tivesse razão mesmo, mas demorou um bom tempo para eu começar a aceitar essa idéia.

Naquela noite, eu perdi o meu amor.

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